Na entrada dos anos 50, o horror continuava em franca decadência, desta vez ofuscado pela ascensão dos filmes de ficção-científica, que praticamente dominaram a década. Com a popularidade crescente do monstro chamado televisão, o cinema teve que encontrar novas maneiras de tirar as pessoas de suas casas. Surgiram então os filmes em terceira dimensão, começando com Museu de Cera (House of Wax, 53) ( Fig.29 ) , horror estrelado por Vincent Price e dirigido por André de Toth - cineasta que ironicamente só tinha um olho e não conseguia entender a empolgação das platéias com as maravilhas do 3-D. A novidade conseguiu chamar a
atenção, enchendo os cinemas de curiosos que usavam aqueles óculos esquisitos. O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon, 54) ( Fig.30 ) com o
único monstro original da Universal, o sanguinário Homem-Guelra encontrado em águas brasileiras e tantos outros filmes de horror e ficção também apelaram para os sustos em relevo, mas a novidade que prometia revolucionar o cinema durou apenas uns poucos anos.
Finalmente, em 1957, o estúdio britânico Hammer provocou uma nova revolução no gênero, mudando totalmente a cara dos filmes de horror, numa
modernização no estilo, mais violento e agora com cores vivas. A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein) não apenas mostrava o sangue vermelho pela primeira vez, como fazia-o jorrar aos borbotões. O filme lançou também os astros Peter Cushing (como o Barão Frankenstein) e Christopher Lee (no papel do monstro), que se defrontariam em inúmeros outros títulos da Hammer. O estúdio deu sequência à saga da criatura com mais meia dúzia de filmes, entre eles A Vingança de Frankenstein (Revenge of Frankenstein, 58) ( Fig.31 ) , O Monstro de Frankenstein (The Evil of Frankenstein, 64)
( Fig.32 ) , E Frankenstein Criou a Mulher (Frankenstein Created Woman, 67, apresentando a coelhinha Susan Denberg como a mais sensual "monstra" das telas) e Frankenstein Tem que Ser Destruído (Frankenstein Must be Destroyed!, 67).
A Hammer abordou o vampirismo a partir de O Vampiro da Noite (Horror of Dracula, 58) ( Fig.33 ) , com Cushing e Lee voltando a se caçar desta vez como Van Helsing e Conde Drácula. Recontando de maneira sangrenta a
clássica história do vampiro imortal, o filme transformou Christopher Lee no Drácula mais famoso das telas, retornando ao papel em incontáveis oportunidades -
Drácula, o Príncipe das Trevas (Dracula - Prince of Darkness, 66) ( Fig.34 ) e O Conde Drácula (Scars of Dracula, 70) estão entre as melhores.
A Hammer recriou em cores outros mitos do horror, com as novas versões de A Múmia (The Mummy, 59) ( Fig.35 ) e O Cão dos Baskervilles (The Hound of Baskervilles, 59)
( Fig.36 ) , ambos com a dupla Cushing e Lee, além de
lançar o jovem Oliver Reed no papel central de A Noite do Lobisomem (The Curse of the Werewolf, 60) ( Fig.37 ) . Herbert Lom - mais famoso pelo personagem que sofria com as trapalhadas de Peter Sellers na série A Pantera Cor-de-Rosa (The Pink Panther) - interpretou o papel título numa tardia versão de O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera) ( Fig.38 ) , lançada em 62.
As coisas estavam um pouco diferentes na América, onde uma mistura estranha de horror e sci-fi arrastava o
p├║blico adolescente aos drive-in. Filmes sobre insetos gigantes gerados por acidentes nucleares como O Mundo em Perigo (Them!, 54) ( Fig.39 ) e O Monstro que Desafiou o Mundo (The Monster That Challenged the World, 57)
( Fig.40 ) divertiam as platéias, enquanto Godzilla, King of the Monsters! (Gojira, 54) ( Fig.41 ) chegava do Japão para iniciar um renascimento dos filmes de lagartos gigantescos, abrindo espaço para o americano The Giant Gila Monster (1959) ( Fig.42 ) e o inglês Gorgo (1961)
( Fig.43 ) , entre outros. I Was a Teenage Werewolf (1957)
( Fig.44 ) , I Was a Teenage Frankenstein ( Fig.45 ) e How to Make a Monster (ambos de 58) apelavam aos delinquentes juvenis para contar hist├│rias situando o horror num ambiente mais familiar.
Essa descoberta dos drive-in pelos jovens nos anos 50 motivou o espertíssimo Roger Corman a preparar uma avalanche de produções paupérrimas. Essas sessões chamadas de double-feature sempre exibiam dois filmes B com pouco mais de uma hora de duração cada. Corman sempre foi o mestre deste mercado, criando centenas de fitas de horror voltadas para esse público, desembolsando o mínimo possível. Seus filmes de monstros eram produzidos de maneira bastante pitoresca: primeiro era desenhado o cartaz de cinema (da maneira mais espalhafatosa possível), e só começavam as filmagens após a arte ter sido aprovada!
Fitas retratando os mais diversos ataques de bichos, como O Monstro do Fundo do Mar (The Monster from the Ocean Floor, 54) ( Fig.46 ) , A Coisa que Conquistou o Mundo (It Conquered the World, 56) ( Fig.47 ) , A Ilha do Pavor (Attack of the Crab Monsters, 57) ( Fig.48 ) e a planta carnívora da comédia de humor negro A Loja dos Horrores (Little Shop of Horrors, 61) ( Fig.49 ) dão uma boa mostra da produção de Corman nesta época.
O produtor William Castle preferia truques bem mais engenhosos para lotar as salas de cinema, e criou os gimmicks, pequenos chamarizes que recebiam mais atenção do que qualquer outra coisa relacionada aos seus filmes. Castle jogou esqueletos na platéia em A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill, 59)
( Fig.50 ) num sistema que ele chamou de Emergo; depois criou Percepto, um dispositivo para dar choques nas poltronas de cinema fazendo o espectador saltar nas principais cenas de Força Diabólica (The Tingler, 59)
( Fig.51 ) . Para o lançamento de Macabro (Macabre, 58), Castle ofereceu um seguro de vida para quem morresse de medo durante a projeção! O produtor e diretor Roger Corman gostou da idéia e tratou de dar o mesmo tratamento para quem morresse durante A Mansão do Terror (The Pit and the Pendulum, 61) ( Fig.52 ).
Num beco mais triste, o esquecido astro Bela Lugosi amargurava um ostracismo até ser convidado pelo inapto diretor Ed Wood Jr. para participar de abacaxis cinematográficos como A Noiva do Monstro (Bride of the Monster, 55) ( Fig.53 ) e Plano 9 - Invasão Intergaláctica (Plan 9 from Outer Space, 59) ( Fig.54 ) . Neste último, Lugosi morreu após ter filmado apenas algumas poucas tomadas, sendo substituído no restante das cenas por um ator nem um pouco parecido com ele, que ficava o tempo todo escondendo o rosto atrás de sua capa preta! Como um último pedido, Bela Lugosi foi enterrado usando sua capa de Drácula, papel que ao mesmo tempo lhe trouxe fama e desgraça.